Os suecos mais uma vez saem na frente quando o assunto são experimentos sociais. Atentos ao fato de que nenhum trabalhador consegue produzir da mesma forma durante oito horas de trabalho, a Toyota da cidade de Gotemburgo, segunda maior cidade da Suécia, resolveu implantar a jornada de trabalho de seis horas por dia, mantendo a remuneração.
Entrevistei o diretor-geral da empresa, Martin Banck, que contou que desde a implementação da nova carga horária de trabalho e empresa apenas tem notado melhorias tanto na produção quanto nos lucros.
“Começamos com esse experimento em 2002 e até hoje só colhemos bons frutos. Isso pode parecer bom demais para ser verdade, mas trabalhar em uma oficina de reparação de automóveis é pesado, e nós percebemos que a equipe trabalhava de forma mais eficaz durante seis horas. Então não havia nenhuma razão para que eles ficassem aqui mais do que o necessário”, explica o diretor-geral da empresa, Martin Banck.
A mudança foi adotada apenas para teste, mas logo se tornou permanente. De 103 funcionários contratados, 36 trabalham com carga horária reduzida, justamente aqueles que utilizam a força física. A partir da alteração, a empresa se surpreendeu com outro benefício: a redução da apresentação de atestados médicos.
Na oficina da Toyota, uma equipe trabalha das 6h às 12h30, com o sagrado intervalo de 30 minutos para o fika, palavra sueca que define o momento em que as pessoas tomam um café acompanhado de algum dos deliciosos doces típicos e socializam com amigos ou colegas de trabalho.
A outra equipe trabalha à tarde. A cada duas semanas, os funcionários mudam de turno para que a divisão seja justa. A grade de trabalho inclui algumas horas no fim de semana, mas o salário extra é devidamente negociado. “Outra consequência dessa mudança foi um aumento no número de clientes. As pessoas perceberam mais agilidade no trabalho e, por isso, nós passamos a ter preferência,” comenta o diretor, que confessa não ter esperado por isso.
Ao ser questionado sobre os custos da mudança, Banck é direto. “Isso não é algo que fazemos por diversão. Somos uma empresa com fins lucrativos. Temos que ganhar dinheiro como qualquer negócio”. Ele aponta que, mesmo com o aumento da procura, a empresa não teve necessidade de investir em novas dependências, já que dois funcionários dividem o posto e as ferramentas de trabalho.
“Recebemos muitas visitas de empresários que acham os resultados impressionantes, mas, na hora de aplicar a experiência nas próprias empresas, eles se sentem receosos. No meu modo de ver, qualquer empresário que pense um pouco ‘fora da caixa’ vai entender que estar atento às necessidades dos funcionários só traz benefícios”, conclui.
Para a Diretora de Gestão da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Marise Drumond, a experiência promovida pela Toyota poderia ser viável no Brasil desde que houvesse uma mudança nas relações de trabalho e muita maturidade do empregador e do empregado. “A compreensão do negócio e de resultados deveria caminhar na mesma linha da qualidade de vida e da satisfação profissional e pessoal”, ressalta.
Agora me conta, você acha que essa jornada de trabalho de seis horas seria viável no Brasil?