A despedida na manhã de sábado foi a mais difícil de todas até o momento. É a quinta vez que viajo sem minha filha, ela tem apenas 3 anos mas nessa idade já entende a distância e o tempo. Estava cinza, frio e a chuva que batia na janela formava um cenário digno de novela mexicana.
A Nicole se jogou na minha frente, de braços abertos bloqueando a porta, disse que eu não poderia ‘ir no avião’ sem levá-la comigo. Eu nunca tinha visto essa cena. Ela nunca tinha agido assim e eu quase não soube como reagir ou melhor, como não reagir e me derramar em lágrimas.
Foi com o ‘coração na boca’, engolindo o choro, que tive de manter a calma e demonstrar a segurança que ela e eu precisávamos no momento. Repeti o discurso dos dias de preparação da viagem. Disse que estava indo trabalhar mas que em breve eu voltaria para busca-lá e que iríamos juntas em uma nova aventura. Um abraço apertado. Fecho a porta e me desmancho pelo caminho.
Desculpa desde já a introdução longa e emotiva. Mas eu quis descrever a realidade da despedida, porque dói muito, sabe? Não posso apenas dizer que viro as costas e viajo sem minha filha como se não fosse um grande acontecimento para nós duas, porque é. Nesse momento vivo mais um paradoxo da maternidade: a alegria de experimentar uns dias de liberdade e a angústia da separação.
Desde a gravidez eu tinha medo e incertezas sobre como a vida de mãe iria afetar minha vida de viajante e o meu sonho de trabalhar como blogger de viagem. Recebi e recebo muitas críticas, nunca pensei que a maternidade traria não só as dúvidas e o desafio de criar um ser humano, mas também um batalhão de comentaristas que acham que sabem tudo sobre esse ‘jogo’. O tempo passou, as incertezas foram diminuindo mas as críticas, essas mudaram apenas de rosto.
Fico boba de ver como o mundo está cheio de ‘experts em maternidade’, que as vezes sabem cuidar da sua filha melhor que você [ironia aqui]. Uma mãe não pode dar uma passo fora da cozinha que vem um ‘sabichão’ querendo ditar regras.
Comentários com tom de ironia: eu não conseguiria ‘abandonar’ minha filha. “Meu marido não deixaria”. E por aí vai… Como se o fato de fazer uma viagem solo significasse abandono ou descaso com a Nicole.
Quanto “ao marido não permitir”, muito me admira o fato de ninguém comentar o mesmo com o Daniel, que por norma, viaja a trabalho [ou não] pelo mesmo 2 vezes por mês. Inclusive, em uma das últimas viagens, a Nicole ficou super doente e eu estava sozinha e desesperada. Não sei o que teria sido de mim nesse dia se não fosse minha amiga Kath, que agora é vizinha. Mas né, o que eu passo cuidando da minha filha sozinha ,’who cares‘?
Para falar a verdade estou “vacinada” contra esse tipo de pitaco. Resolvi citar essas críticas aqui pois queria chamar a atenção para o fato de que, além de ter que lidar com a angústia da despedida e o aperto da saudade, esse questionamento vindo de outras pessoas também se tornam uma pedra no caminho.
Minha melhor resposta nesse caso é fazer minhas malas e ir sempre em buscas dos meus sonhos. E foi o que fui fazer na Irlanda , passei uma semana na cidade de Killarney para participar do TBEX, um dos maiores encontros internacionais de bloggers, jornalistas e influencers de viagem com profissionais e empresas ligadas ao turismo. Uma oportunidade e tanto para a minha carreira.
Os dias foram produtivos, conheci lugares e pessoas inspiradoras e durante esse tempo, mais uma vez a certeza de que agindo assim estou fazendo o melhor por mim e pela minha filha.
Inclusive me lembrei de uma pesquisa que diz “mães que trabalham fora são mais felizes e saudáveis”. Não estou querendo aqui opinar sobre as mães que escolhem ficar em casa cuidando dos filhos, apenas quero dizer que para mim essa possibilidade de me desligar, trabalhar com o que faz o meu coração bater mais forte e ter um tempo para cuidar de mim.
Nunca pensei que um dia iria dizer que a melhor parte do meu dia é poder ir ao banheiro sem ter companhia. [haha]
Além disso esse tempo longe de casa faz com que o marido entenda suas queixas e ainda faz com que a criança se aproxime mais do pai.
Veja só, uma das coisas que eu mais reclamo com o Daniel é o fato de que ele não toma a iniciativa de ir ou de levar a Nicole em festinhas de criança. Pois é, não é que durante essa semana que estive fora ele manda uma foto todo animado participando pela primeira vez de um aniversário de um colega da escolinha? As vezes precisamos dar espaço para que o pais tomem mais iniciativas na vida dos filhos.
Uma viagem ou outra faz bem para todos. Sem contar que a saudade faz milagres nos relacionamentos.
Se você é mãe e tem receio de deixar sua cria, tente começar se afastando por um ou dois dias e verá os benefícios. Se ainda não tem filhos, tente apenas não julgar um mundo ainda desconhecido pra você que já ajuda muito, viu!
Voltei para casa e ela estava novamente na porta, sorridente, de braços abertos, como se nunca tivesse saído dali. Foi uma passadinha rápida em Estocolmo, nem deu tempo de desfazer a mala, peguei minha filha e já estamos novamente na estrada, desbravando Tallin, na Estonia, e dessa vez juntas.
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E você, também viaja sem filhos? Deixa um comentário que vou adorar saber como foi sua experiência.