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O que a Camila Coelho pode te ensinar sobre feminismo

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O que a Camila Coelho pode te ensinar sobre feminismo

Outro dia eu estava conversando com uma amiga e ela disse o seguinte: não faz sentido a Camila Coelho falar sobre feminismo… Na hora eu desviei o assunto, pois eu já sabia o motivo desse comentário. Afinal o que uma mulher que ganha a vida falando de  beleza e maquiagem teria a dizer sobre o feminismo?

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Camila Coelho. Foto: www.camilacoelho.com

Mas esse assunto não saiu da minha cabeça. Pensem comigo: porque uma das mulheres mais influentes do Brasil na atualidade, reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho, não poderia falar sobre feminismo? Irônico, não é mesmo?

Isso parte de uma das tantas ideias erradas que são propagadas sobre o feminismo. De que o movimento, ou linha de pensamento, busca a supremacia da mulher sobre o homem ou quem sabe, busca masculinizar as mulheres. Esses são apenas alguns dos conceitos equivocados sobre o tema sendo que o principal pilar do feminismo é justamente a igualdade de gêneros.

De acordo com a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche, “feminista, é uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica. Acredita em uma sociedade com direitos iguais para homens e mulheres”. Dentro dessa definição podemos dizer que a mulher é livre para escolher o que ela quer  ser/fazer da sua própria vida, inclusive decidir se quer trabalhar com maquiagem.

Bom, não pretendo aqui debater a definição de feminismo mas sim levantar a questão de como a sociedade gosta de ditar regras sobre o comportamento feminimo e, principalmente, desmerecer o trabalho das mulheres, seja pela roupa, pela decendência, casamento ou por outro motivo qualquer.

Camila Coelho é hoje um belo exemplo de mulher de sucesso. Ela trabalha com o que ama e se destacou no mundo dos negócios apenas com o fruto do seu trabalho. Ela não chegou ao posto onde está hoje por ser filha de um pai influente ou por ter se casado com um homem rico (e não estou julgando ou desmerecendo ninguém que o tenha feito!). Ela chegou ao topo de sua carreira, com seus 20 e poucos anos, “apenas” pelo seu talento. Foi destacada na lista Forbes Brasil 2014 com um dos 30 jovens mais influentes do país com menos de 30 anos. E eu poderia listar aqui outros prêmios, mas esse também não é o propósito desse texto.

Quero destacar aqui que muitas mulheres não alcançam sucesso em suas carreiras porque vivemos em sociedade que reprime, dizendo que deveríamos nos casar, ter filhos e cuidar da casa, e sermos boas esposas, etc… etc… E que não é assim tão simples ir contra esse padrão e se inserir no mercado de trabalho. Para nós mulheres a luta para quebrar esses paradigmas de uma cultura machista é apenas um dos tantos obstáculos que enfrentamos para alcançar nosso espaço profissional.

No Brasil as mulheres ainda ganham em média 30% a menos do que os homens para exercer a mesma função, de acordo com uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mulheres também são maioria no trabalho doméstico, acumulando funções dentro e fora de casa. São as maiores vítimas de assédio sexual no trabalho, normalmente cometido por homens em situação de hierarquia superior. (Dados apresentados na matéria O que é feminismo na Revista Carta Capital) Para não falar que muitas empresas ainda hoje, preferem contratar homens para não correr o risco de ter uma funcionária grávida que vai precisar de licença maternidade.

As dificuldades enfrentadas pelas mulheres para ter uma profissão não ficam nos limites das empresas, onde os homens  predominam, sejam em números,  ou ocupando a maior parte dos cargos de chefia. Muitas mulheres nem sequer chegam ao mercado de trabalho pois são “prisioneiras” de relações opressoras que as impendem psicologicamente e  fisicamente de estudar ou trabalhar.

Ainda na matéria da Revista Carta Capital podemos ver que de acordo com uma pesquisa da Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal,  no Brasil, a cada 12 segundos uma mulher é violentada. A cada 10 minutos, uma mulher é estuprada, de acordo com o Mapa da Violência, e a cada 90 minutos uma mulher é assassinada, de acordo com o IPEA. Todas essas violências estão relacionadas à questão de gênero – são casos que durante muito tempo foram chamados de “passionais”, são casos que acontecem dentro de casa, no seio familiar, e que se diferem da violência que atingem os homens, que morrem por diversos motivos, mas nunca por serem homens.

Isso pode não estar acontecendo com você ou na sua família mas está acontecendo aí do seu lado, agora mesmo. E para a maioria dessas mulheres é difícil expor o fato de que estão sendo violentadas ou violadas pelo próprio companheiro. Elas apenas se calam…

Agora vejamos, a Camila Coelho além de ter se destacado profissionalmente pelo talento ainda levou o marido para o  seu meio de trabalho.  Ícaro, marido de Camila, vendeu sua empresa de limpeza comercial em Framingham e tem se dedicado exclusivamente a ajudá-la na parte comercial. Atualmente ele a acompanha na maioria das viagens, como fotógrafo.

Nesse caso poderíamos debater também a questão de que carreira e casamento podem andar lado a lado para reforçar que feministas não são mulheres contra o casamento ou contra os homens. Somos contra a sociedade decidir o que vamos fazer da nossa própria vida. Eis a questão!

A  escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche em uma conferência TED, aprensentou, muitos exemplos de como mulheres e homens são criados, tratados e vistos na sociedade de formas diferentes.  “A primeira vez que eu dei aula em uma escola de pós-graduação, eu fiquei preocupada, não com o conteúdo o com o materia da aula, eu estava preparada. Eu fiquei preocupada com o que vestir. Eu queria ser levada a sério. Eu sabia que por ser mulher eu automaticamente teria que provar o meu valor. E eu pensei que seu eu parecesse muito feminina eu não seria levada a serio. Na verdade eu queria usar gloss e um blusa ‘de menina’, mas eu decidi não usar. Então eu vesti um terno bem sério, masculino e muito feio. A triste  verdade é que quando se trata de aparência começamos com o padrão masculino como regra. Se um homem está se arruamando para uma reunião de negócios, ele não se preocupa em parecer muito masculino temendo não ser levado à serio. Se uma mulher precisa ser arrumar para uma reunião de negócios ela tem que se preocupar em não parecer muito feminina e se ela não vai ser levada à serio”.

Esse é o trecho de uma palestra incrível chamada “We should all be feminists” que vocês podem assistir aqui (em inglês mas com legendas em português) . O discurso da autora nigeriana é um belo esclarecimento sobre feminismo e de como a cultura  machista reflete nas decisões de nós mulheres todos os dias.

Um dos pontos alto desse trecho  é ressaltar que a sociedade deveria parar de basear o conceito de seriedade e respeito à figuras masculinas e parar de desmerecer as mulheres que prezam pela sua feminilidade sem por isso deixarem de ser profissionais. E eu acrescento, que é esse preconceito que leva as pessoas a acreditarem que mulheres vaidosas são menos dignas de falarem sobre feminismo.

Eu nunca ouvi ninguém dizer que um cara de terno não pode falar sobre futebol ou que um homem de bermuda e camiseta não pode falar sobre política. Mas quando se trata de mulheres somos julgadas todo o tempo: quer seja pela roupa, pela postura,  maquiagem, se trabalhamos ou porque somos donas de casa.

Acho que no lugar de debater a maquiagem da Camila Coelho poderíamos debater o empoderamento feminimo, buscar entender melhor esse conceito e perceber que nós mesmos podemos encorajar outras mulheres a seguirem o seu próprio desejo. Com ou sem maquiagem!

O Facebook está cheio de páginas e grupos que debatem o tema:

Conexão Feminista

Não me Khalo

Empodere duas mulheres

Quer saber se você também é feminista?  Faça o teste! https://cynthiasemiramis.org/teste-voce-e-feminista/

Mitos sobre o feminismo: http://mdemulher.abril.com.br/estilo-de-vida/m-trends/mentiras-batidas-sobre-feminismo-que-precisam-parar-de-ser-repetidas

O que é feminismo: http://revistacult.uol.com.br/home/2015/03/o-que-e-feminismo/

Fontes: http://camilacoelho.com/clipping/

Super vaidosa e fitnista

O que é feminismo – Carta Capital

 

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